Estudo Livro Tiago cap. 04

A Origem das Contendas (15) (Cap. 4:1-10) – Ministrado em 09/09/11

1_Donde vêm as guerras e contendas entre vós? Porventura não vêm disto, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam? 2_Cobiçais e nada tendes; logo matais. Invejais, e não podeis alcançar; logo combateis e fazeis guerras. Nada tendes, porque não pedis. 3_Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites. 4_Infiéis, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. 5_Ou pensais que em vão diz a escritura: O Espírito que ele fez habitar em nós anseia por nós até o ciúme? 6_Todavia, dá maior graça. Portanto diz: Deus resiste aos soberbos; dá, porém, graça aos humildes. 7_Sujeitai-vos, pois, a Deus; mas resisti ao Diabo, e ele fugirá de vós. 8_Chegai-vos para Deus, e ele se chegará para vós. Limpai as mãos, pecadores; e, vós de espírito vacilante, purificai os corações. 9_Senti as vossas misérias, lamentai e chorai; torne-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria em tristeza. 10_Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará.

No vs. 1 Tiago nos mostra que naqueles dias havia hostilidade no meio das comunidades cristãs da época. Assim como temos hoje. Há divisões, rixas, e competições na igreja de Cristo, infelizmente. Como chega a acontecer isto? Por que é assim?

“Donde vem as guerras e contendas?” A resposta de Tiago é imediata: “Dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam”
Deleites (hedonôn), que é hedonismo, a concepção da vida segundo a qual o prazer é a finalidade, o bem supremo da vida. É a glorificação dos sentidos.
Os deleites estão na “carne”, no homem interior.
A lucidez de Tiago é grande: A força dos prazeres que operam na nossa vida produz o clima de regras sociais, dentro das igrejas. Trocando em miúdos, o espirito de contendas entre os cristãos é produto da carnalidade humana, da carne trabalhada pelo intenso desejo de prazer, de satisfação. É o homem dominado pela carne que produz problemas na igreja. Tiago o contrapõe ao homem sujeito a Deus (vs 7), que poe o Diabo em fuga.
“Cobiçais e nada tendes”. Desejar melhores condições de vida não é errado. É uma legitima aspiração humana. Mas, “cobiçar” aqui não é uma aspiração legitima. A conseguencias dos verbos no vs 2 esclarece bem: cobiçar, matar, invejar, combater, fazer guerras. Não são desejos inspirados por Deus. São inspirados por deleite, prazer.

O “matais” não quer dizer que havia assassinatos naquelas igrejas. A figura empregada pelo autor é de uma guerra entre pessoas e nações, é como houvesse uma semelhança nas igrejas o espirito de contendas carnal entre as pessoas, uma natureza puramente humana.

“Nada tendes, porque não pedis” é uma declaração obvia, mas a sua continuação é alerta contra as orações sem valor, mal direcionadas.
O ensino de Jesus sobre a oração do sermão do monte, (Mt 7:7-8) “7 Pedí, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei e abrir-se-vos-á. 8 Pois todo o que pede, recebe; e quem busca, acha; e ao que bate, abrir-se-lhe-á”. É em termos absolutos. “todo o que pede, recebe.”
Tiago relativiza. Se tudo o que pedíssemos fosse atendido por Deus, seríamos infelizes. Muito do que pedimos não é o melhor. E, também, oração não é obrigar Deus a fazer o que queremos. Pedimos muitas vezes e não recebemos porque pedimos mal. São os deleites, os prazeres, que nos levam a pedir mal, de forma desfocada da vontade Divina.
Calvino certa vez disse, sobre este assunto “Queriam fazer de Deus o ministro de suas próprias concupiscências”.

Muitos gostariam de usar Deus para seus propósitos, que não são muito edificantes.
Os valores daqueles cristãos deveriam ser outros. Estavam, como a igreja de Laodicéia, apaixonadas por valores mundanos, mas absolutamente desinteressados pelos valores que, aos olhos de Deus, realmente contam.
Nos vs. 4, Tiago clama contra o amor ao mundo. Importa lembrar aqui que “mundo” não é as pessoas . “Deus amou o mundo...” (Jo 3:16). Temos um sentido moral no termo: um sistema de valores humanos pervertidos e organizados contra Deus, como “Babilônia”, por exemplo. Não é possível amar a Deus e ao conjunto de valores que se opõe a ele. Assim Tiago reclama: “Infiéis, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus?”.

Infiéis” traz literalmente o sentido de “adúlteras” (feminino, designando as pessoas que deveriam ser consorciadas com Deus e o traíram). A figura de adultério para configurar a infidelidade espiritual vem do Velho Testamento. Iavé desposou Israel, quando do Êxodo. A proteção (da parte de Deus) e a submissão (da parte de Israel), elementos presentes na união conjugal, estavam assumidos pelas partes. Com a busca de outras divindades, Israel adulterou. Quebrou sua palavra. Jeremias é muito preciso: “Deveras, como a mulher se aparta sem motivo de seu marido, assim Israel fez com o Senhor” (Jr. 3:20).
A figura de casamento também esta presente no Novo Testamento: “... pois vos desposei com um só Esposo, Cristo, para vos apresentar a ele e como virgem pura” 2 Co 11:2. Cristo e a Igreja são exemplo nupcial para o casal. A figura é bem eleborada: amor, dedicação e fidelidade.
O cristão deu seu coração a Jesus Cristo. Apaixonou-se por ele. Amar o mundo é adulterar contra Cristo, é dividir o amor que lhe foi prometido. Isto é não possível!

O próprio amor cristão pode ser desfocado e vir a ser tao pernicioso quanto o amor ao mundo. “Amar o mundo é dar o nosso coração ao materialismo, à ambição ou ainda a coisas muito boas e válidas mas que assumem importância maior que o nosso Criador.
O amor à pregação do evangelho pode ser amor ao mundo, se gostamos de fazer pelo destaque, porque somos muito bom na oratória, etc...
O amor à nossa casa de oração (templo) poder ser amor ao mundo, se estamos tão ocupados com a aparência do lugar e não com as pessoas, a adoração ou ao servir ao Senhor.
O orgulho de ser cristão, a motivação de estar a frente em alguma função na igreja , se o foco não para o Senhor, isto também é amor ao mundo.
Tiago não nos deixa meio-termo: o amigo do mundo é inimigo de Deus. O homem não precisa ser inimigo de Deus. Ele se torna assim porque quer.

Vs. 5 ”Ou pensais que em vão diz a escritura: O Espírito que ele fez habitar em nós anseia por nós até o ciúme?”. O cristão não pode dividir se afeto, dando-o pela metade a Deus e pela metade a outras coisas. Isto é idolatria


Só há um Deus. Grande advertência! Amamos a Deus mais que aos nossos bens, mais que as pessoas com as quais vivemos? Temos, realmente, um só Deus ou formulamos tal declaração de fé e deslocamos o Senhor para a periferia de nossa vida, dando aos deuses modernos, como carro, eletrodomésticos, posição social e ideologias, o primeiro lugar?

6_Todavia, dá maior graça. Portanto diz: Deus resiste aos soberbos; dá, porém, graça aos humildes.
É uma citação de Provérbios 3:34. Não devemos orgulharmos. Está certo. Mas, o que faz esta declaração aqui? Não estaria deslocada? Qual o sentido de sua colocação neste lugar?
A soberba, o orgulho e o desejo de autoconfiança sem Deus que levam à amizade pelo mundo, deixando o Senhor, em segundo plano. Tais pessoas, ele resiste. Não as aceita porque são amigas do mundo, e logo, suas inimigas. Mas, “dá graça aos humildes”. A mesma ideia é apresentada em I Pe 4:5, 6, sendo assim ratificada.

O deleite pode ser vencido! Não é necessário ser vencido por ele, tendo a vida frustada que os vs 1-3 nos mostram. Tampouco é necessário ser inimigo de Deus, amando o mundo. Assim é que Tiago introduzirá nova personagem, o Diabo. Seus agentes já apareceram em 2:19 (os demônios), mas ele surge aqui, pela primeira vez, no vs 7.
Tiago esta falando de desejos hedonistas e de amos para com o mundo. Quem estaria por trás de tudo isto? O Diabo é “o príncipe deste mundo” (Jo 12:31). Ele é quem estimula, alimenta o amor ao mundo nos corações humanos.

No vs. 7_Sujeitai-vos, pois, a Deus; mas resisti ao Diabo, e ele fugirá de vós. Deve ser visto dentro de uma perspectiva global, e não fragmentada. Há neste vs duas frases que não podem ser dissociadas/separadas:

A 1ª frase é “Sujeitai-vos, pois a Deus;” A 2ª é “Mas resiste ao Diabo”.

Temos aqui duas características que fazem parte da vida do Cristão.

Somos exortados a resistir ao Diabo porque assim fazendo ele fugirá de nós. É importante, no entanto, observar que “sujeitai-vos, pois a Deus” precede a ordem de resistência.
Muitos cristãos sinceros tem caído porque lutam conta o inimigo sem uma perfeita submissão ao Senhor.
Vale dizer, tem resistido ao Diabo na carne, e tem sido derrotados.

Há ex. Bíblicos que nos ajudarão a entender bem o fato acima citado.
O primeiro casal e o Senhor Jesus. Nas duas experiencias de tentação, encontramos uma rendição vergonhosa e uma resistência vitoriosa. No caso da rendição, não se vê nem resistência nem busca de Deus ou submissão a ele. Pelo contrário, o questionamento da serpente sobre os motivos de Deus foi bem aceito.
No caso da resistência vitoriosa, encontramos um homem totalmente confiante e submisso ao Pai. A lição é inequívoca: para resistir com sucesso ao Diabo é preciso submeter-se a Deus.



No vs 8_Chegai-vos para Deus, e ele se chegará para vós. Limpai as mãos, pecadores; e, vós de espírito vacilante, purificai os corações.
Na parte “A” do vs. Nos dá uma ideia imediata que nossa atitude produz a ação divina. Se nos chegarmos a Deus, então, e só então, ele se chegará a nós. Em Jo 15:16, encontramos ideia oposta: Vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a vós,”. A ideia aqui é que Deus agiu primeiro. De modo semelhante, IJo 4:10 nos declara: “Nisto está o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados.” Novamente a iniciativa pertence ao Senhor.

Por amor Deus em sua soberania permite a si mesmo fazer certa parte e nada mais. Ele estabeleceu limites para si mesmo quando criou o homem e nunca obriga ninguém a tomar uma decisão contra a sua própria vontade. Deus fez tudo o que era possível, dando-nos seu Filho e atuando pelo Espirito Santo. É a isto que o homem tem que responder. Deve chegar-se a Deus, e quando assim o faz descobre que Deus esta ali, chegando-se a ele.

Tiago deixa a questão dos prazeres, do mundo e do Diabo. S

Passa a dar instruções aos cristãos daqueles dias e pra nos também de como nos aproximar de Deus. Apresenta sentenças curtas, cada uma contendo uma verdade. Não há uma argumentação continuada, mas, à semelhança do livro de Provérbios.

COMO SE APROXIMAR DE DEUS? A 2ª parte do vs 8, vs 9 e 10 tratam exatamente de como se dá a aproximação homem-Deus. SÃO CINCO PASSOS.
1º Passo: Limpai as mãos, pecadores; e, vós de espírito vacilante, purificai os corações. (parte “b” vs 8).
Os sacerdotes deviam lavar as mãos era mais que um costume.
No entanto, Os discípulos de Jesus não lavavam as mãos para comer. ó

Para chegarmos a Deus, precisamos de um espirito de pureza, de um desejo de santificação, despojando-nos da impurezas. A ideia é reforçada pela expressão:

“purificai o coração” dirigida aos de “espirito vacilante” ou “hipócritas”.

A “mãos” representa o exterior e nos dá a ideia de ação, O “Coração” nos remete ao intimo da pessoa. O seu interior e nos dá ideia das emoções e das efetividades da pessoa.
Para uma aproximação correta de Deus, é preciso uma purificação tanto interna quanto externa, tanto de sentimentos quanto de atitudes. O que agrada a Deus não é a mera exterioridade, mas a coerência entre o fazer e o ser.

No vs 9 começa com três verbos: sentir, lamentar e chorar. Mostram uma atitude de quebrantamento.

2º Passo: 9a_”Senti as vossas misérias, lamentai e chorai;” Sentir pelo seu estado espiritual; Lamentar-se e chorar pelos seus pecados.
3º Passo:9b_”torne-se o vosso riso em pranto,” Uma correta aproximação de Deus leva a uma atitude de chorar os pecados. O estado de espirito da pessoa muda. Quem aproxima de Deus com seriedade não o fará de modo relaxado ou com espirito como que não quer trabalhar.
4º Passo: 9c_”e a vossa alegria em tristeza.” Mostra que há uma mudança emocional no estado de espirito de quem se aproxima de Deus em busca de santificação.
A força do texto se acentua quando descobrimos que palavra “tristeza” nos dá uma ideia de “olhar para baixo, para o chão”, numa atitude de vergonha. O publicano de Lc 18:13, não ousava levantar os alhos para o céu.
É impossível buscarmos uma aproximação mais profunda de Deus sem sentirmos vergonha de nosso estado espiritual. Sua luz mostrará nossa imundícia e nos levará à vergonha.

5º Passo: Vs. 10_Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará. O exemplo mais claro e que faz a mais excelente prova dessa passagem é o do nosso Salvador, como Paulo nos mostra em Filipenses 2:5-11. Ele se esvaziou, humilhou-se até a morte, e morte de cruz; por isso, “...9_Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre todo nome; 10_para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, 11_e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.”
Foi exaltado sobre tudo e todos, mas antes, esvaziou-se. Sim, “Deus resiste aos soberbos; dá, porém, graça aos humildes”.

Vs. 11 Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão, e julga a seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei; ora, se julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz. 12 Há um só legislador e juiz, aquele que pode salvar e destruir; tu, porém, quem és, que julgas ao próximo?

Tiago nestes dois vs. fala claramente o que acontece com os cristãos que sem sabedoria fala mal dos outros, quando assim o fazem está julgando a própria Palavra de Deus, que condena tal atitude.
O texto que estudamos é uma chamada à consagração. E três promessas são feitas aos que buscam a consagração:
1ª) O diabo, fugirá deles;
2ª) Deus se chegará a eles;
3ª) Deus os exaltará.
São preciosas promessas aos que se submetem a Deus, humilhando-se diante dele.
















O Que É a Vossa Vida? (16) (Cap. 4:13-17) – Ministrado em 23/09/11

13_Eia agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, lá passaremos um ano, negociaremos e ganharemos. 14_No entanto, não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois um vapor que aparece por um pouco, e logo se desvanece. 15 Em lugar disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo. 16_Mas agora vos jactais das vossas presunções; toda jactância tal como esta é maligna. 17_Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado.

Tiago fala da Falibilidade dos Projetos Humanos, tendo sua enfase colocada principalmente na indagação do vs 14: “Que é a vossa vida?”

Não resta dúvidas que a ideia mais forte do texto que agora analisaremos é a imprevisibilidade da vida humana. Como esta é surpreendente! Poderia, por exemplo, Moisés, no dia da saída do Egito após a longa disputa com o faraó, imaginar que ele próprio não estaria na terra prometida? Poderia Bartimeu, que saiu a esmolar, imaginar que naquele dia o Senho Jesus restituiria a vista e sua vida seria radicalmente modificada? Quantos de nós fomos também surpreendidos com o imprevisível!

Tiago reclama de pessoas que fazem plano de locomoção para uma cidade onde programam passar um determinado tempo e para ganhar dinheiro. Planejar a vida e ganhar dinheiro trabalhando honestamente não é pecado. Pelo contrário, é uma medida acertada. Planejamento e trabalho são virtudes a cultivar. A questão fundamental é que Deus foi esquecido, como Tiago menciona no vs. 15 Devíeis dizer: Se o Senhor quiser, ...”.

Os judeus, como raça, caracterizaram-se como grandes comerciantes. Na Bíblia, nós os encontramos como agricultores e pastores de rebanhos. Mas, desde a dispersão, muitos deles se tornaram comerciantes e banqueiros. A habilidade comercial e a disposição para o trabalho fizeram dos judeus comerciantes afortunados.

Naqueles dias o mundo crescia. Muitos cidades estavam sendo fundadas. Numa povoação que começa a surgir a habilidade comercial tem amplas oportunidades. E os judeus eram bem acolhidos nas cidades onde chegavam e logo recebiam a cidadania, pois com eles chegavam o comercio e o dinheiro. Por isso o planejamento: iremos a tal cidade, lá passaremos um ano, negociaremos e ganharemos.” O grande problema era o banimento de Deus nas decisões humanas.

Um exemplo dessa itinerância dos judeus esta com Áquila e Priscila. Em At 18:2, Paulo encontra o casal que viera expulso de Roma, onde exercia o oficio de fabricantes de tendas. Em Romanos 16:3-5, o casal esta de volta a Roma e inclusive em sua casa se hospeda a igreja cristã.



No entanto, não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Penetrantes palavras! O que é a nossa vida? Veja o que diz o salmista: Sl 90:9, 10 “... acabam-se os nossos anos como um suspiro. Passa rapidamente, e nós voamos...” Estas são declarações do salmista Moisés sobre a rapidez da vida humana. Sendo a vida tão rápida e incerta, planejá-la sem Deus é insensatez.
Em Lucas 12:13-21 temos a parábola do rico insensato. Os bens materiais eram o deus daquele homem e se constituíam na sua grande paixão. No discurso que ele pronunciou, não houve lugar para Deus. Só o EU: Farei, farei, derribarei, edificarei, recolherei, direi. Planejou para longo prazo: “Muitos bens para muitos anos”. Naquela noite, sua alma foi pedida. “Que é a vossa vida?”

“Vapor” ou “Neblina” Seria nossa vida mais que esta duas figuras? A dona de casa destampa a panela, sobe o vapor que dentro dela se formou e logo se acaba. Muitos de nós vivemos como se nunca fossemos morrer! Nunca nos lembramos que aos olhos de Deus somos como um vapor. Por isso, a recomendação do vs. 15 é oportuna: “Em lugar disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. Nunca devemos deixar Deus fora de nossos planos. Nenhum absolutamente nenhum deles!

O que significa dizer “Se o Senhor quiser”? Isso é suficiente para mostrar a dependência de Deus? Essa é uma advertência saudável, mas ao mesmo tempo se converteu numa frase rotineira que tem pouco significado para muitos dos que a usam. Não precisamos ficar repetindo, sempre “Se o Senhor quiser”. Isso não é suficiente neste caso, como que garantisse a presença dEle em tudo! Como que o simplesmente repetida vezes oramos e dizemos “em nome de Jesus” seremos atendidos, claro que não é assim!
Deve ser mesmo um desejo sincero e uma disposição autêntica do nosso coração, para que em nós se cumpra o querer de Deus.

No vs. 16 Mas agora vos jactais das vossas presunções;” Na Bíblia linguagem de hoje, traduzido assim: “Porém vocês são orgulhosos e vivem se gabando”. É o orgulho humano que nos leva a presumir que somos suficientes, que nos bastamos, e por isso podemos prescindir, dispensar a Deus. Moisés alerta o povo de Deus, em Dt 8, para que não esqueça os benefícios feitos pelo o Senhor. O povo não deveria dizer: “A minha força, e a fortaleza da minha mão me adquiriram estas riquezas”, mas sim se lembrar do Senhor, “porque ele é o que te dá forças para adquirires riquezas...” (vs. 17, 18).
Orgulhar-se do progresso pessoal sem reconhecer que vem de Deus o poder e a capacidade para tal, é atitude maligna. Como diz Tiago: “Toda jactância tal como esta é maligna”. Jactância=vanglória; soberba; arrogância; amor-próprio.

O termo “maligna” é o mesmo encontrado no Pai Nosso: “mas livra-nos do mal” (Mt 6:13). Livra-nos do maligno, ou seja o MALIGNO precede o ORGULHO! É ele o MALIGNO que inspira os homens a se orgulharem da grandeza do que adquiriram. Cuidado com a auto suficiência!

De repente, parece que, quebrando a sequencia dos argumentos, Tiago diz:Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado”.
Seria uma sentença isolada, desligada de toda a argumentação anterior, não fosse o “pois”. A frase tem conexão total com o que anteriormente foi exposto. Na realidade, o vs. 17 faz a ponte entre o discurso contra os comerciantes (vs. 13-16) e o discurso contra os ricos e opressores (Tg 5:1-6).
As pessoas dotadas de mais posses têm melhores condições de ajudar os necessitados. (LEI DA SEMEADURA).
Os prósperos negociantes do texto que ora tratamos não o faziam. Omitiam-se . Os ricos negociantes do texto a seguir, não apenas deixavam de ajudar, mas oprimiam. Omissão e repressão: a ordem é lógica. A omissão é apenas o inicio da opressão, porque esta é a sequência da insensibilidade que se inicia com a omissão. É o desinteresse pelas pessoas, a falta de amor e de compaixão cristã pelas criaturas necessitadas que tornam o coração endurecido.

A única preocupação do elemento passa a ser a preocupação consigo mesmo. Por isso, com muita propriedade, já dizia o teólogo Manson, O Pecado é a abolição dos dez mandamentos e a instauração do décimo primeiro: “Tu te amarás a ti mesmo sobre todas as coisas”. (Mt 22:39)
A essência do pecado é o egoismo, e ainda que teologicamente se possa discordar deste conceito, há que se concordar que o homem em pecado rejeita a Deus e o próximo e se constitui a si mesmo como o centro do seu universo. Só então entendemos por que a omissão é pecado!

Como pecado, a omissão será punida por Deus. O grande exemplo que nos vem da Bíblia esta na parábola do rico e Lázaro, encontrado no livro de Lc 16:19-31. O rico terminou no inferno. Não apedrejou Lázaro. Não o escorraçou nem o defraudou até levá-lo à mendicância. Nada disso! O rico “apenas” ignorou Lázaro. O texto bíblico nos diz que Lázaro, coberto de úlceras, foi deixado ao portão do rico. Seu desejo era alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico. Na Palestina, as pessoas ricas tinham o costume de molhar o pão para que com ele lavassem as mãos sujas de comida, já que, não tendo talheres, eles comiam com as mãos, jogando pedaços de pão molhado debaixo da mesa... Lázaro era um homem tão fraco que os cães vinham lamber-lhe as feridas e ele nem sequer tinha forças para espantá-los. E é interessante observar que ele via os ricos, mas estes não o viam. Sim, o rico só foi ver Lázaro lá no inferno.

É triste pensar na insensibilidade da igrejas que constroem templos suntuosos. Imponentes catedrais “para a glória de Deus”. Será realmente esta a vontade de Deus? As pessoas passam necessidades, vão até nossas casas, sabem que somos cristãos, e muitas ou quase sempre batemos com a porta em sua cara.
Que tipo de Deus é este que, para ser glorificado em um bairro miserável, as pessoas não se relacionam, estão acima do nível social, não falo com fulano, com beltrano, etc...
Se Jesus Cristo nos revelou um Deus cuja glória não esta nas paredes, mas nas pessoas? O que uma igreja em condições assim pode comunicar aos seus vizinhos? Quanto de nossa vida eclesiástica, centrada no templo, é amor a Deus, e quanto é escapismo dos problemas de um mundo tão necessitado, não apenas no espírito, mas também no corpo?
Não somos culpados, nós mesmos, de grande parte do desinteresse e desprezo que o mundo tem se levantado conta a igreja? Que interesse real o mundo pode sentir da igreja para com ele? Quem resiste a coisas boas?

“Pobre tem alma!”, poderá alguém dizer que discorde dos que se preocupam com as necessidades materiais do povo. Com certeza o pobre tem alma. Mas, o que a igreja precisa lembrar é que “rico também tem alma” e nem sempre esta ela fazendo isso aos poderosos. E mais importante ainda: A igreja precisa lembrar que “pobre também tem corpo”. Parece que isso é que tem sido esquecido. Pregamos, exortamos, motivamos, pedimos a Deus, ele faz o milagre. E nossa parte como tem ficado, deixamos de fazer o bem! Isso é pecado, Tiago esta dizendo isso.
A igreja de Cristo que passa a viver somente dentro das quatro paredes, admirando sua estrutura, seu programa, seus projetos, esquecida das pessoas, que são imagem e semelhança de Deus.

Pobre também tem corpo, tem necessidades materiais. Tiago nos mostra claramente. E nós temos coragem de dizer que os ricos que eles também tem alma, e que darão contas a Deus de sua vida.

Quanto a nós, evitemos a omissão. “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não faz, comete pecado.” Evitemos transformar a nossa fé em ideologia separada do mundo e no escapismo histórico.